Classe mĂ©dica pernambucana chama a atenção para a falta de eficĂĄcia comprovada da cloroquina

Por: Wellington Silva - Portal FolhaPE Apesar de o MinistĂ©rio da SaĂșde ter divulgado ontem um protocolo liberando o uso da cloroquina, azitromicina e sulfato de...

Por João Paulo Pereira em 21/05/2020 às 08:12:41
Por: Wellington Silva - Portal FolhaPEApesar de o MinistĂ©rio da SaĂșde ter divulgado ontem um protocolo liberando o uso da cloroquina, azitromicina e sulfato de hidroxicloroquina para casos leves de Covid-19, autoridades sanitĂĄrias e especialistas não entram em consenso sobre a eficĂĄcia da medicação. Se de um lado hĂĄ quem defenda a prescrição desses remĂ©dios, do outro, estudos cientĂ­ficos apontam um aumento de efeitos adversos provocados pelo uso desses medicamentos, como maior incidĂȘncia de falĂȘncia cardĂ­aca em função de sua toxicidade. O documento, que não possui a assinatura de mĂ©dicos, seguirĂĄ para os secretĂĄrios estaduais e municipais de SaĂșde. Segundo o próprio protocolo, "atĂ© o momento não existem evidĂȘncias cientĂ­ficas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica especĂ­fica para a covid-19". O chefe de triagem do setor de Infectologia do Hospital UniversitĂĄrio Oswaldo Cruz (Huoc), Filipe Prohaska, ressaltou que qualquer uso de remĂ©dios deve ter acompanhamento de um mĂ©dico. "O protocolo vem contra as informações do que a gente tem na literatura mĂ©dica atualmente. Contudo, ele deixa bem claro que a responsabilidade da prescrição fica a cargo do mĂ©dico", disse, acrescentando que o texto não sugere fazer o tratamento em massa. Ainda segundo o infectologista, o documento fala que os mĂ©dicos podem repor zinco e vitamina D, mas não fala em dose nem parâmetros de quem deve receber o reforço dessas substâncias. "Fica aquela dĂșvida se o profissional vai jogar bĂșzios ou vai ser um tratamento holĂ­stico para algo que não existe protocolo definido", comenta. O profissional ressalta que não se deve enxergar a cloroquina como a solução do problema. "Infelizmente, queria muito dizer que existe remĂ©dio efetivo, mas não existe. É uma doença que tem muitas caras, com vĂĄrias apresentações de sintomas diferentes que exigem tratamentos individualizados", falou. O documento mantĂ©m a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). "É arriscado o MinistĂ©rio da SaĂșde recomendar o uso de uma medicação sem evidĂȘncias cientĂ­ficas que comprovem sua eficĂĄcia contra a doença. Ele joga a responsabilidade para cima de quem prescreve a medicação", avalia Prohaska. Diante deste cenĂĄrio, o infectologista acredita que pode haver pressão por parte dos pacientes para o uso da cloroquina e talvez alguns procurem profissionais que prescrevam o remĂ©dio. "Escutar uma segunda, terceira, quarta opinião não tem problema. É um direito. Mas a pessoa tem que estar informada e saber as consequĂȘncias da medicação e ser acompanhada", disse. Prohaska falou a conduta dele ao iniciar um tratamento tem mudado por conta do que as pesquisas vĂȘm mostrando nos Ășltimos 45 dias. "Hoje eu faria menos uso da cloroquina do que eu fiz antes", disse. Por meio da assessoria de imprensa, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) disse seguir o que foi estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). "Após analisar extensa literatura cientĂ­fica, a autarquia reforçou seu entendimento de que não hĂĄ evidĂȘncias sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença. PorĂ©m, diante da excepcionalidade da situação e durante o perĂ­odo declarado da pandemia de Covid-19, o CFM entende ser possĂ­vel a prescrição desses medicamentos em trĂȘs situações especĂ­ficas", diz comunicado divulgado no site do CFM. Em nota, a Secretaria Estadual de SaĂșde (SES) disse que recebeu com preocupação as novas orientações do MinistĂ©rio da SaĂșde. "Como a Organização Mundial de SaĂșde (OMS) divulgou e o próprio MinistĂ©rio da SaĂșde deixou claro na publicação, nenhum destes medicamentos tĂȘm eficĂĄcia comprovada contra a doença e seu uso pode causar diversos efeitos colaterais. AlĂ©m disso, mais de 20 especialistas de oito entidades mĂ©dicas e instituições de SaĂșde do Brasil, como a Fiocruz e a Sociedade Brasileira de Infectologia, alertaram para a inexistĂȘncia de benefĂ­cios da cloroquina no tratamento da doença", diz o comunicado. A SES ressaltou ainda que as novas orientações foram apresentadas sem nenhum plano especĂ­fico de abastecimento dos serviços do SUS. "Principalmente os que serão mais afetados, que são as unidades municipais de Atenção PrimĂĄria que atendem a maior parte dos casos leves da doença. A estimativa Ă© que as unidades de saĂșde do Estado, incluindo as das redes municipais, precisarão de mais de um milhão de comprimidos, só neste mĂȘs de maio - nĂșmero muito superior às 186 mil capsulas enviadas, desde março, pelo MinistĂ©rio da SaĂșde".
Comunicar erro

ComentĂĄrios