Programa ajuda na ressocialização de pessoas em situação de rua, e seis conquistam emprego após trabalho voluntário

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Por Edvaldo Campos em 13/04/2024 às 05:18:20
Grupo participa do projeto 'Seguir em Frente', da Prefeitura do Rio, que ajuda quem quer sair das ruas e ganhar independência financeira. 'Prometi a mim mesmo que ia mudar de vida', diz Lucas, de 34 anos. Voluntários do Programa Seguir em Frente assinam carteira de trabalho

Edu Kapps/SMS

Seis homens, que até pouco tempo estavam em situação de rua, realizaram o sonho de voltar ao mercado de trabalho e tiveram a carteira assinada por uma empreiteira responsável por uma obra da Prefeitura do Rio.

Eles participaram, junto com outros nove voluntários, da construção do Centro Municipal de Saúde (CMS) Eliza Abrantes, no Lins de Vasconcelos, na Zona Norte, que foi inaugurado no dia 3 de abril.

O grupo é atendido pelo Programa Seguir em Frente, da Prefeitura do Rio, que busca ressocializar a população em situação de rua da capital fluminense. Atualmente, eles moram na Residência e Unidade de Acolhimento (RUA) Sonho Meu, em Cascadura.

A reinserção no mercado de trabalho é uma das etapas do programa. Lá, eles têm a oportunidade de trabalhar em estágios remunerados por diária ou se envolver em outros projetos, como foi o caso desse grupo.

Eles fizeram trabalhos voluntários nas obras da unidade de saúde. A dedicação e assiduidade no trabalho chamou a atenção da responsável pela construção — que decidiu assinar a carteira de trabalho dos homens.

Eles atuaram como ajudantes de pedreiro e fizeram de tudo um pouco, como pintura, preparo de cimento, descarga de material e a limpeza final.

Placa em homenagem aos participantes do Programa Seguir em Frente

Edu Kapps/SMS

No dia da inauguração do centro hospitalar, o brilho nos olhos e os sorrisos orgulhosos eram notados pelos presentes. Em homenagem ao grupo de voluntários, uma mensagem de agradecimento foi impressa na placa que fica exposta no local.

Para Lucas Barreto Correia, de 34 anos, o trabalho voluntário no CMS e o estágio remunerado têm um significado ainda maior. Nascido e criado em Brasília, Lucas veio para o Rio de Janeiro para tentar uma oportunidade de trabalho, mas, sem sucesso, ficou nas ruas e começou a usar drogas.

Agora, ele segue nas atividades de estágio remunerado no RUA Sonho Meu.

"Quando eu ouvi falar que a Prefeitura havia inaugurado um novo projeto para moradores de rua, eu prometi a mim mesmo que iria para lá e ia mudar minha vida", conta Lucas.

'Incerteza e desconfiança'

Renato e Lucas na inauguração do centro de saúde

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Um sentimento de incerteza e desconfiança. Foi assim que Renato Stavale Cardoso Ribeiro, um dos contratados, se sentiu quando foi acolhido pelo projeto, em dezembro do ano passado. Aos 24 anos, ele precisava lidar com o tratamento difícil das ruas.

"Fui recebido com muito carinho quando cheguei lá, mas no início foi muito estranho. Eu não estava acostumado a ser tratado assim e não estava colocando fé", conta Renato, que também é paciente no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad) Dona Ivone Lara.

"Eu só tenho a agradecer ao Seguir em Frente, estou fora das ruas e longe das drogas. Com a ajuda dos profissionais do CAPS, estou me reerguendo", completa.

Ao menos 8 mil vivem nas ruas

A Prefeitura do Rio contabilizou quase 8 mil pessoas em situação de rua em 2022. O balanço foi divulgado em 2023 e mostra um aumento de quase 10% em relação ao levantamento de 2020, quando a pandemia ainda estava no início.

A história de André da Conceição Santana é muito parecida com a de milhares de pessoas que passam pelo problema: ele se viu sem rumo por conta de conflitos familiares. André passou 3 anos nas ruas, exposto a drogas, e há um mês faz o tratamento para se livrar do vício.

A pesquisa feita pelo município apontou que, em 2022, 43% das pessoas estavam nas ruas por problemas com a família. Outros 22% chegaram a essa vulnerabilidade por conta de vícios.

André na obra do centro de saúde

Edu Kapps/SMS

"É um projeto muito importante, fiquei muito feliz em ajudar nas obras de uma unidade de saúde, que vai cuidar de muitas pessoas. A partir de agora, eu vou mostrar ainda mais o meu trabalho, sempre dando o meu melhor", afirma André.

Os que ainda não tiveram a oportunidade de contratação, como Lucas, continuarão no estágio remunerado, atuando no próprio abrigo administrado pela Secretaria Municipal de Saúde e em clínicas da família, auxiliando nos serviços gerais.

O projeto

Com o Projeto Seguir em Frente, a prefeitura passou a tratar a vulnerabilidade dos sem-teto como uma questão de saúde pública.

O planejamento estabelece diversas medidas de acolhimento, assistência social e saúde para o cuidado e diagnóstico desse grupo populacional mais vulnerável. O objetivo é criar condições para a ressocialização, promovendo a reinserção no mercado de trabalho e resgatando a cidadania.

A proposta tem cinco fases sequenciais:

Criar condições para que as pessoas saiam das ruas para unidades de acolhimento;

Promover tratamento de saúde necessário;

Dar ocupação remunerada, no próprio projeto, em atividades de interesse público ou instituições parceiras;

Construir um futuro com a preparação para o mercado de trabalho e geração de renda;

Conquistar autonomia para deixar o programa e seguir em frente, reinserido na sociedade e com a cidadania resgatada.

Fonte: G1

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