Estudo canadense investiga se variedade especĂ­fica de maconha pode proteger contra o coronavĂ­rus

Por Deutsche Welle Cientistas canadenses supõem que variedades medicinais da Cannabis sativa bloqueiem a penetração do Sars-cov-2. Seus resultados partem de pesquisas sobre...

Por João Paulo Pereira em 11/05/2020 às 08:03:43
Por Deutsche WelleCientistas canadenses supõem que variedades medicinais da Cannabis sativa bloqueiem a penetração do Sars-cov-2. Seus resultados partem de pesquisas sobre tratamento de câncer e artrite, e necessitam validação independente.

A lista de medicamentos promissores jĂĄ tem alguns candidatos entre os cientistas que avançam na busca por tratamentos menos ortodoxos.

Um deles Ă© o Remdesivir, originalmente desenvolvido para o tratamento do ebola. Na Alemanha, transcorrem os primeiros testes clĂ­nicos de uma vacina da covid-19, usando um produto criado para a imunologia do câncer. Um realizado na França indica que a nicotina - o alcaloide inalado durante a distração, frequentemente letal, do fumo - talvez proteja contra o novo vĂ­rus.

E agora parte do CanadĂĄ a informação de que determinados princĂ­pios ativos da maconha tambĂ©m podem ter um efeito anĂĄlogo ao da nicotina, elevando a proteção das cĂ©lulas contra o coronavĂ­rus. No entanto o estudo ainda não foi submetido a avaliação independente por outros pesquisadores (peer review), que constitui uma espĂ©cie de selo de qualidade nos meios cientĂ­ficos.

PrincĂ­pio ativo

Segundo revelou à DW Igor Kovalchuck, professor de ciĂȘncias biológicas da Universidade de Lethbridge, os resultados relativos à Covid-19 se originam em pesquisas sobre a artrite, Morbus Crohn, câncer e outras enfermidades. Em artigo no site Preprints.org, ele e sua equipe sugerem que alguns componentes quĂ­micos da uma variedade especialmente desenvolvida de cannabis reduziriam a capacidade do vĂ­rus de chegar atĂ© as cĂ©lulas pulmonares, onde se instala, reproduz e propaga.

Para ocupar uma cĂ©lula hospedeira humana, o Sars-cov-2 necessita um receptor, a enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2), que se encontra no tecido pulmonar, na mucosa bucal e nasal, nos rins, testĂ­culos e trato digestivo. Sem essa enzima, o patógeno não tem como penetrar.

A teoria de Kovalchuck Ă© que canabinoides modificariam os nĂ­veis de ECA2 nesses "portais", tornando o hospedeiro humano menos vulnerĂĄvel ao vĂ­rus e essencialmente reduzindo o risco de infecção.

Erva controversa

Diversos mĂ©dicos indicam a cannabis medicinal para o tratamento de afecções que vão da nĂĄusea à demĂȘncia. No entanto, ela Ă© diferente da erva utilizada como droga recreativa, a qual se destaca pela alta concentração de tetra-hidrocanabinol (THC), seu principal princĂ­pio psicoativo.

Em contrapartida, os pesquisadores canadenses se concentraram em cepas da espĂ©cie Cannabis sativa com um alto teor de canabidiol (CBD), um canabinoide anti-inflamatório. Eles cultivaram mais de 800 dessas variantes da maconha, identificando 13 extratos que seriam capazes de modular as taxas da ECA2.

"Nossas variedades tĂȘm uma alta taxa de CDB ou uma taxa equilibrada de CBD/THC, para que se possa ministrar uma dose mais alta sem que os pacientes sejam afetados pelas propriedades psicoativas do THC", explica Kovalchuck.

Ele dirige a firma Inplanta juntamente com Darryl Hudson, formado pela Universidade de Guelph, em OntĂĄrio, onde tambĂ©m se pesquisa o emprego de canabinoides na medicina. PorĂ©m "ainda Ă© difĂ­cil" obter financiamento para esse tipo de pesquisa, comenta Kovalchuck, e não só no CanadĂĄ.

Segundo cientistas do Reino Unido, tanto a opinião pĂșblica quanto a polĂ­tica tĂȘm uma visão equivocada da cannabis medicinal. AlĂ©m disso, os mĂ©dicos temem que os cidadãos se tornem dependentes ou tentem se automedicar, utilizando qualquer variedade da erva que tenham a à disposição.

"Diante da volatilidade sociopolĂ­tica do consumo medicinal de cânabis, os pesquisadores tĂȘm que ser especialmente cuidadosos com a divulgação de seus resultados", alerta Chris Albertyn, diretor do setor de pesquisas do King's College London e especialista em canabinoides e demĂȘncia.

Em busca de validação

Certo estĂĄ que sem financiamento suficiente e aprofundamento das pesquisas, não haverĂĄ o conhecimento necessĂĄrio sobre os canabinoides, adverte Kovalchuck. Mas "pelo menos agora hĂĄ um interesse difundido", e ele estĂĄ seguro que estĂĄ ocorrendo uma mudança de postura.

Embora admitindo que mesmo seus extratos de cannabis mais potentes necessitam de validação cientĂ­fica abrangente, Kovalchuck e seus coautores asseguram que o canabidiol pode ser um "complemento seguro" no tratamento da Covid-19 - paralelamente a outros mĂ©todos, frisam os cientistas.

Assim, atĂ© uma avaliação conclusiva, a maconha medicinal poderĂĄ desenvolver-se como um "tratamento preventivo de fĂĄcil aplicação", anĂĄlogo, por exemplo, aos antissĂ©pticos bucais no uso clĂ­nico ou domĂ©stico.

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