Governo usarĂĄ dados de operadoras de telecomunicação para monitorar circulação de pessoas

Por: AgĂȘncia Brasil As operadoras de telecomunicação repassarão informações sobre a circulação de pessoas para que o governo faça avaliações e desenvolva estratĂ©gias

Por João Paulo Pereira em 05/04/2020 às 10:05:39
Por: AgĂȘncia BrasilAs operadoras de telecomunicação repassarão informações sobre a circulação de pessoas para que o governo faça avaliações e desenvolva estratĂ©gias de prevenção e combate à epidemia do novo coronavĂ­rus. A parceria vai durar o perĂ­odo da calamidade pĂșblica da covid-19 e envolve as empresas Vivo, Claro, Oi, Tim e Algar. De acordo com o sindicato das empresas do setor (Sinditelebrasil), serão repassados dados agregados e anonimizados da circulação dos seus clientes. Os dados permitirão visualizar "manchas de calor" da concentração de pessoas em localidades de todo o paĂ­s, auxiliando o governo a localizar onde estão ocorrendo aglomerações. Quando uma pessoa liga um celular, o aparelho se conecta a uma antena, chamada no linguajar tĂ©cnico de Estação RĂĄdio-Base (ERB). Segundo o presidente executivo do Sinditelebrasil, Marcos Ferrari, a informação repassada ao governo serĂĄ de quando e onde ocorreram essas conexões entre usuĂĄrio e redes das operadoras. "O que nós estamos disponibilizando para o governo Ă© este dado estatĂ­stico agregado. Não vamos falar em nĂșmero de linha nem em nome da pessoa. Em tal dia estavam conectadas tantas linhas em tal antena. Isso Ă© um mapa. Olha por cima do paĂ­s e enxerga como se dĂĄ a concentração de pessoas, deslocamento delas por meio deste mecanismo estatĂ­stico", disse Ferrari. Os dados serão consolidados no fim do dia e repassados a um servidor da empresa estadunidense Microsoft, de onde poderão ser acessados pelo governo. Assim, o "mapa" mostrarĂĄ a situação sempre do dia anterior. As cinco operadoras possuem uma grande base de dados, somando 214 milhões de chips (embora vĂĄrios clientes tenham mais de um chip). "A forma como o governo vai usar esse dado pode ser de diversas maneiras. A gente não vai interferir nisso, pois Ă© uma decisão do governo. Pode ser uma universidade que pode fazer esse uso dos dados, ou empresa terceirizada que lide com inteligĂȘncia artificial. Para isso o governo estĂĄ botando a governança dele para aplicar de maneira eficiente estes dados", comenta o executivo do Sinditelebrasil. Ele acrescenta que os princĂ­pios de proteção previstos na Lei Geral de Proteção de Dados e do Marco Civil da Internet serão respeitados.TransparĂȘnciaNa avaliação do conselheiro do Laboratório de PolĂ­ticas PĂșblicas e Internet da Universidade de BrasĂ­lia (Lapin) Thiago Moraes, Ă© importante que o governo se certifique que os dados disponibilizados na "nuvem" da Microsoft não sejam usados para outras finalidades. Mesmo não estando em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados, ele defende que seus princĂ­pios e diretrizes sejam respeitados. "O Art. 6Âș atenta para que o tratamento seja limitado ao mĂ­nimo necessĂĄrio, e se evite o uso excessivo dos dados. Isto significa, entre outras coisas, que uma vez superada a crise, os dados coletados devem ser eliminados. É importante tambĂ©m que tão logo uma polĂ­tica pĂșblica seja definida, sua finalidade seja transparecida à população [o princĂ­pio da transparĂȘncia previsto no art. 6Âș]", destaca o pesquisador. A Lei Geral de Proteção de Dados instituiu as normas para coleta e tratamento de dados. Aprovada em 2018, ela entraria em vigor em agosto, mas o Senado adiou o inĂ­cio da vigĂȘncia para o inĂ­cio do ano que vem. Contudo, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965 de 2014) tambĂ©m prevĂȘ a garantia da privacidade dos dados dos internautas. Para a coordenadora do Coletivo Intervozes Marina Pita, a falta de uma legislação cria um vĂĄcuo preocupante e seria importante ter mais informações sobre como os dados da grande maioria da população serão tratados. "PrincĂ­pios como proporcionalidade, necessidade e finalidade, incluindo o descarte após atingida a finalidade, por exemplo, estão sendo observados? Deveria haver mais detalhes inclusive em relação aos procedimentos de anonimização e agregação utilizados porque hĂĄ vĂĄrios exemplos de reidentificação de dados anonimizados. Um sistema como esse não pode perdurar e deveria haver formas de auditar e fiscalizar o seu uso", defende. A AgĂȘncia Brasil entrou em contato com os ministĂ©rios da SaĂșde (MS) e da CiĂȘncia, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e aguarda retorno.
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