Uso de cĂ©lulas-tronco contra Covid-19 avança

Por: Folhapress Pesquisadores de diversos paĂ­ses tĂȘm estudado uso de cĂ©lulas-tronco no tratamento de Covid-19. As terapias celulares não atacam o vĂ­rus ou impedem a sua...

Por João Paulo Pereira em 23/05/2020 às 15:12:58
Por: FolhapressPesquisadores de diversos paĂ­ses tĂȘm estudado uso de cĂ©lulas-tronco no tratamento de Covid-19. As terapias celulares não atacam o vĂ­rus ou impedem a sua entrada nas cĂ©lulas, mas diminuem o quadro inflamatório provocado pela reação imunológica em resposta à infecção. Seu uso para a Covid-19 ainda Ă© experimental, e a aprovação dos órgãos regulatórios varia em cada paĂ­s. Os estudos em curso avaliam a eficĂĄcia por meio de modelos animais e infecções in vitro e tambĂ©m são de uso compassivo, no qual o tratamento Ă© testado em pacientes em estado grave sem chance de terapias alternativas. Os resultados tĂȘm sido promissores, e agora os hospitais devem iniciar os ensaios clĂ­nicos. Só na plataforma ClinicalTrials, que reĂșne pedidos em andamento, são mais de 30, de diversos paĂ­ses, incluindo China, EUA, França e Irã. A maioria dos estudos utiliza as cĂ©lulas mesenquimais estromais (MSC, na sigla em inglĂȘs), mais conhecidas como cĂ©lulas-tronco. A escolha da fonte das cĂ©lulas varia de estudo para estudo, sendo que a medula óssea Ă© a mais frequente, mas outras fontes celulares podem incluir o tecido adiposo, o cordão umbilical e atĂ© a placenta. Os efeitos colaterais da terapia com cĂ©lulas-tronco são poucos, como febre baixa. Outra vantagem Ă© que as cĂ©lulas-tronco não necessitam de compatibilidade genĂ©tica com o indivĂ­duo receptor. Existem drogas em estudo para Covid-19 formadas por agentes anti-inflamatórios, como o anti-IL-6R (Tocilizumab), que tĂȘm sua quantidade aumentada na infecção, mas vantagem da terapia celular em relação a esse medicamentos Ă© que elas servem como um coquetel, uma combinação de vĂĄrios mediadores anti-inflamatórios distintos, e não apenas um. Em Israel, a farmacĂȘutica Pluristem pretende começar atĂ© o fim do mĂȘs um ensaio clĂ­nico com cĂ©lulas placentĂĄrias expandidas (PLX, na sigla em inglĂȘs) após o sucesso observado do uso compassivo por pacientes com quadro respiratório grave decorrente da Covid-19 em dois centros hospitalares. Os pacientes tiveram Ă­ndice de recuperação de 100% em um perĂ­odo de 14 dias, e metade deles teve alta dos ventiladores mecânicos em menos de uma semana. O presidente e CEO da Pluristem Yaky Yanay disse à Folha que a vantagem do seu tratamento Ă© a produção em larga-escala -uma Ășnica placenta pode fornecer o tratamento para atĂ© 20 mil pacientes. A empresa teve liberação da FDA (agĂȘncia norte-americana que regulamenta medicamentos) para iniciar ensaios clĂ­nicos nos Estados Unidos e recebeu financiamento de 50 milhões de euros (R$311 mi) do Banco de Investimentos Europeu para apoio da terapia no continente, com inĂ­cio previsto na Alemanha e ItĂĄlia. No Brasil, a Anvisa (AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria) determina a existĂȘncia de dois tipos de terapias celulares: a convencional, que consiste no uso de cĂ©lulas-tronco hematopoiĂ©ticas para transplante, passĂ­vel de registro para uso, e a terapia celular avançada, que inclui o uso de cĂ©lulas-tronco mesenquimais, como as descritas acima. Não hĂĄ, atĂ© o momento, nenhum registro aprovado pela agĂȘncia de terapia celular avançada no paĂ­s. Pesquisadores do Instituto de BiofĂ­sica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tĂȘm estudado a terapia com cĂ©lulas-tronco em diversas doenças pulmonares, comparando MSCs de diferentes fontes e diversas vias de administração. Segundo Patricia Rieken MacĂȘdo Rocco, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, chefe do laboratório de Investigação Pulmonar do IBCCF, que coordena o estudo, a vantagem da terapia celular em pacientes com Covid-19 Ă© a ação anti-inflamatória, que traz benefĂ­cio não só às cĂ©lulas lesionadas que revestem os pulmões, mas tambĂ©m àquelas que revestem vasos sanguĂ­neos com risco elevado de embolia ou sangramento. AlĂ©m disso, diz Rocco, as cĂ©lulas-tronco possuem tambĂ©m ação antifibrótica. "Alguns pacientes tĂȘm ficado muito tempo em ventilação mecânica, no mĂ­nimo duas semanas, e a ventilação mecânica associada a um quadro inflamatório pulmonar pode levar à fibrose pulmonar." Rocco afirma ainda que outra ação da terapia celular Ă© a defesa contra bactĂ©rias. Em estudos realizados in vitro, foi observado que bactĂ©rias não crescem quando cultivadas com cĂ©lulas-tronco. Como pacientes internados com Covid-19 em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por perĂ­odo prolongado podem desenvolver tambĂ©m quadro de pneumonia bacteriana, a terapia celular poderia atuar impedindo o aparecimento dessa infecção secundĂĄria. O grupo liderado pela pesquisadora brasileira jĂĄ estudou o uso de cĂ©lulas-tronco de medula óssea em pacientes com enfisema pulmonar, asma e silicose, mas ainda não testaram para Covid-19. A mĂ©dica disse que no paĂ­s uma limitação para estudos com terapias celulares avançadas Ă© a regulamentação da Anvisa. Segundo ela, a orientação da agĂȘncia Ă© de utilização do tratamento apenas como uso compassivo. No Brasil, existem diversos Centros de Tecnologia Celular (CTC) que produzem cĂ©lulas-tronco extremamente confiĂĄveis e de alta segurança, diz Rocco. A maior desvantagem da terapia celular para tratamento em larga escala de doenças Ă© o alto custo. O paciente submetido ao tratamento no Brasil não gasta um centavo, diz, mas o custo para os CTCs Ă© de aproximadamente R$ 20 mil por paciente. Mesmo assim, o executivo da Pluristem acredita que a terapia celular Ă© aplicĂĄvel no Brasil, onde os nĂșmeros de mortes por Covid-19 crescem diariamente. "Nós temos o produto disponĂ­vel nas prateleiras, temos capacidade de importar para qualquer paĂ­s do mundo. As pessoas estão morrendo nos hospitais, temos que agir agora. Se algum governante quiser usar nossas cĂ©lulas para tratamento [de Covid-19], estamos dispostos a ajudar", afirma Yaky Yanay.
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