Entenda por que STF determinou a volta de Roberto Jefferson à cadeia

Ex-deputado atirou contra agentes da PF

Por João Paulo Pereira em 24/10/2022 às 07:42:36
Roberto Jefferson - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Roberto Jefferson - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) foi preso em agosto do ano passado, em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito das milícias digitais, o qual ele é relator do processo. Em janeiro deste ano, foi concedido ao político a substituição de regime para prisão domiciliar, com medidas impostas em contrapartida por Moraes, como a proibição de qualquer comunicação exterior, incluindo participação nas redes sociais. Na última sexta-feira (21), ele não só desrespeitou este tópico, como foi além: disparou ofensas misóginas contra a ministra do Supremo Cármen Lucia, por discordar de um voto dado por ela no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No vídeo gravado por Jefferson, que circulou nas redes através de aliados do ex-deputado, ele chama Cármen Lúcia de "bruxa de Blair", além de compará-la com uma prostituta. A gravação gerou a reação de ministros, como o próprio Alexandre de Moraes, que publicou uma nota de repúdio à fala do ex-parlamentar. A presidente do STF, a ministra Rosa Weber, também se manifestou sobre o tema, afirmando que a agressão à colega foi "sórdida e vil" e que trata-se de "expressão da mais repulsiva misoginia".

Ainda na noite de sexta-feira, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia foi pelo menos uma das entidades que protocolaram no Supremo pedido para que o benefício da prisão domiciliar a Roberto Jefferson fosse revogado por desrespeito às medidas impostas por Moraes. As proibições eram:

proibição de qualquer comunicação exterior, inclusive participação nas redes sociais;

proibição de visitas sem autorização judicial;

proibição de qualquer espécie de entrevista, salvo com autorização judicial;

proibição de contatos com outros investigados no inquérito das milícias digitais.

O STF julgou como procedente o argumento e ordenou, neste domingo, que agentes da Polícia Federal fossem a Comendador Levy Gasparian, na Costa Verde do RJ, onde o ex-deputado federal vive.

No início da tarde, por volta de 12h, Jefferson gravou vídeos, onde mostra através da câmera de segurança de sua residência, a chegada dos agentes da Polícia Federal. Por diversas vezes, ele afirma que não irá se entregar, e que só deixa a sua casa morto. Em gravação feita minutos depois, ele mostra, através do mesmo circuito de segurança, a viatura da PF repleta de marcas de disparos de arma de fogo, e afirma ter trocado tiros com os agentes. Ao fundo, é possível ouvir uma voz feminina tentando acalmá-lo o tempo todo.

Dois agentes teriam sido feridos de raspão por estilhaços. Jefferson teria atirado, inclusive, uma granada. Procurada pelo GLOBO, a Polícia Federal ainda não se manifestou sobre o incidente. Ele segue resistindo à prisão.

'Milícias digitais'

O inquérito que investiga a organização e o funcionamento de uma milícia digital voltada a ataques à democracia foi aberto em julho de 2021, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou relator do processo, e é um desdobramento de uma outra investigação sobre atos antidemocráticos.

A Polícia Federal apura indícios e provas que apontam para a existência de uma organização criminosa que teria agido com a finalidade de atentar contra o Estado democrático de direito. Segundo o inquérito, esse grupo se dividiria em núcleos: de produção, de publicação, de financiamento e político. Há suspeita, também, de abastecimento com verba pública.

Entre os nomes citados no processo em um pedido para acessar quebras de sigilo, estão os assessores da Presidência da República acusados de integrar o chamado "gabinete do ódio", que seria encarregado de promover ataques virtuais nas redes sociais contra desafetos da família do presidente Jair Bolsonaro (PL) e adversários do governo.

Fonte: Por Agencia O Globo

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